Sábado, dia 26 de dezembro, dona Jussara foi fazer uma visita para dona Maria.
A Rua Principal da comunidade do Areal abre suas portas nos dias dos festejos de fim de ano. Os parentes que moram nos seringais vêm à cidade comemorar e se fartar fazendo um rodízio pelas casas que bem lhe apetecerem. Tomam um copo de vinho aqui, uma cachaça acolá e até um champanhe vez ou outra. Beliscam o que está à mão, fumam e cospem no chão, jogam conversa fora, namoram a vizinha, brigam com a mulher, as crianças reclamam do presente, o comerciante recusa devolução. Mas, a comida é muita e variada.
Ô de casa! Grita Jussara e bate palmas no portão.
Dona Maria atende.
- Ô de fora! Entre, a senhora está chorando? Sente que eu vou lhe preparar um chá de erva cidreira.
Enquanto escolhia as folhas, Maria pensava no drama de Jussara. No ano passado ela contou que nunca mais faria festa de Natal na sua casa, pois a comida fora desprezada pelos parentes que vieram da floresta e até pelos cachaceiros sem eira nem beira nascidos dum ovo que circulam pela Principal e penetram sem convite.
Ela fizera uma mesa sortida de bolos de mandioca e castanha, vatapá, galinha picante, porco assado. Pupunhas e castanhas cristalizadas enfeitavam a mesa junto com pamonhas doce e salgada e cuscuz de coco ralado com suas próprias mãos. Creme de cupuaçu que ela mesma preparou, cortando com a tesoura a polpa e outras guloseimas regionais.
-Já vou Maria mais tarde eu volto.
-Espere, fiz um chá de ervas, disse Maria , mas Jussara se foi.
No ano passado ela me contou que eu fui a única que comeu na sua festa de Natal.
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